A Chamada Acumulacao Primitiva
Já vimos como o capital produz a mais-valia e como a mais-valia produz um novo capital. Mas a acumulação do capital pressupõe a mais-valia, como esta pressupõe a produção capitalista, e esta, por sua vez, a concentração nas mãos dos produtores de mercadorias de massas consideráveis de capital ou força de trabalho. Todo esse movimento parece, assim, mover-se num círculo vicioso, de onde não podemos sair a não ser pressupondo, anteriormente à produção capitalista, uma acumulação primitiva que seria não o resultado, mas o ponto de partida do modo de produção capitalista.
Essa acumulação primitiva desempenha na Economia Política quase o mesmo papel que o pecado original na Teologia. Adão comeu a maçã, e o pecado caiu sobre todo o gênero humano. Explicam-nos a origem dessa acumulação através de um conto reportado a um passado longínquo. Certa vez, faz muito tempo, havia uma elite laboriosa, inteligente e, sobretudo, econômica, e, por outro lado, um bando de preguiçosos que esbanjavam o que tinham e o que não tinham em festas e farras. A lenda do pecado original nos conta, é verdade, que o homem foi condenado a comer seu pão com o suor de seu rosto; mas a história do pecado original econômico nos ensina que alguns escaparam dessa pena. Mas pouco importa. Sempre terá sido que os primeiros acumularam as riquezas enquanto os outros, finalmente, para vender só tinham a própria pele. É desse pecado que data a pobreza da grande massa que, a despeito de todo o seu trabalho, continua a só possuir a si mesma para vender; e a riqueza. de alguns, que cresce sem cessar, ainda que há muito tempo eles já pararam de trabalhar. Na história real, a conquista, a servidão, o morticínio e a pilhagem — numa palavra: a força bruta — desempenham„ como se sabe, o papel mais importante, Na doce Economia Política só se conhece o idílio. O direito e o trabalho foram sempre os únicos meios de enriquecimento, com exceção, naturalmente, do ano em curso... Na