A carta de Caminha e Dos de Montaigne
Partindo de sua postura cética ele discute no ensaio “Dos canibais” perguntando como o rei Pirro: Quem são os bárbaros? “[...] Não sei que bárbaros são estes (pois os gregos chamavam assim todas as nações estrangeiras), mas a disposição deste exército que vejo não é nem um pouco bárbara” (I, 31, pág.303).
O texto Dos Canibais revela a interpretação do novo e velho mundo por meio da linha de pensamento do filósofo francês Michel Montaigne. Para ele, os “bárbaros” não seriam aqueles que habitavam a parte desconhecida do mundo, mas sim os indivíduos que se encontravam no Velho Mundo. O outro é constitutivo da identidade do eu e Montaigne se esforça para ver as coisas do ponto de vista dos outros. Montaigne avalia que cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume, ou seja, ele questiona o sentido dos termos “bárbaro” e “selvagem”, que escondem nossa incapacidade de reconhecer os valores de outros povos, sob a justificativa de que temos “superioridade” sobre eles.
Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há nada de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo que dela me relataram, senão que cada um chama de bárbaro o que não é de seu uso, como, em verdade, não parece que tenhamos outro padrão de verdade e de razão que o exemplo e a idéia das opiniões e usanças do país de onde somos. Lá esta sempre a religião perfeita, o emprego perfeito e acabado de todas as coisas (MONTAIGNE, 2009, p.51).
O etnocentrismo na visão de Montaigne.
Montaigne destaca que antes de vermos o defeito dos indígenas devemos olhar os nossos próprios defeitos e ver a crueldade que há entre nós. Como ele cita:
Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade, mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que seja mais bárbaro comer um homem vivo do que comer depois de morto (...) (MONTAIGNE, 1991, p. 101)
O etnocentrismo na Carta de Caminha
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