trabalho
Infância, catequese e aculturação no Brasil do século 16
Marisa Bittar
Amarílio Ferreira
Júnior
Palavras-chave: catequese jesuítica; dominação cultural; crianças indígenas.
D
Ilustração: Sandra Barrote
iscute as formas de imposição do padrão cultural ocidental-cristão nas terras brasílicas durante o século 16. Os jesuítas, nos marcos da ContraReforma, atuaram como uma espécie de "intelectuais orgânicos" do sistema colonial português. A princípio, a ação jesuítica centrou-se na catequese e na educação das crianças índias e mamelucas, procurando, por meio delas, atrair seus pais para os princípios cristãos. As crianças foram objeto central da pedagogia jesuítica. Na ação de catequese propriamente dita, os padres combatiam os elementos centrais da cultura indígena: a antropofagia, a nudez, a poligamia e o nomadismo. A escola do bê-á-bá, no século 16, constitui, pois, um dos pilares ideológicos sobre o qual se consolidou a ordem colonial portuguesa no Brasil.
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R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 81, n. 199, p. 452-463, set./dez. 2000.
contou com um número pequeno de padres. Em 1549, ano em que a Companhia de Jesus chega ao Brasil, eram seis; em
1597, 120; 20 anos depois, 180. Em 1749, na Província do Maranhão (criada em 1627), havia 145 jesuítas e, no restante da Colônia, 445 membros da Companhia. Tais dados evidenciam que não foi a quantidade de missionários o fator determinante da hegemonia cultural.
Os curumins e a conversão ao Cristianismo
Introdução
A catequese e a ação jesuítica com as crianças no Brasil do século 16 ainda constituem um tema pouco pesquisado na historiografia da educação brasileira, que conta com superioridade numérica de estudos sobre a era republicana. A preferência pelo presente e pelos objetos emergentes, tendência prevalecente na historiografia atual, nos traz à mente a análise de Pierre
Bourdieu (2001, p. 36) sobre a "hierarquia social dos objetos", quando chama