A Cabe A Carrego A Identidade Ori Teologico

11942 palavras 48 páginas
À CABEÇA CARREGO A IDENTIDADE*
O ORÍ COMO UM PROBLEMA DE PLURALIDADE TEOLÓGICA

João Ferreira Dias**

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Não é por acaso que Stephan Palmié começa o seu artigo, “O trabalho cultural da globalização iorubá”,1 por perguntar se Samuel Johnson era, de facto, yorùbá, na medida em que Johnson não passou, ipso facto, de um Sàró cristianizado que somente em retrospetiva é passível de ser entendido como yorùbá, uma vez que toda a sua vivência foi pautada pela cristianização dos povos falantes da língua de ͔̖\͕̗ e suas derivadas e similares. Como Palmié demonstra, a partir do caso dos Lucumí de Cuba, a pergunta é de extrema importância, na medida em que a “iorubidade”
(como ele chama) ou a “yorùbánidade” em termos nossos, é de facto resultante de um processo intenso de laboração intelectual e, naturalmente, de um processo de alteridade2 que infere na constituição do “eu” yorùbá, quer face aos seus vizinhos africanos, quer face aos missionários cristãos, islâmicos do norte e povos de destino da trata de escravos. Enquanto pastor da Church Missionary Society (doravante CMS), Samuel
Johnson observou e formulou a identidade yorùbá em função de uma
* Para o constante, o termo identidade surge em relação ao sujeito individualizado e não aos coletivos designados por yorùbá e afro-brasileiro.
** Investigador do Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Este texto é dedicado a José da Silva Horta, pela orientação. E-mail: joaoferreiradis@outlook.pt
1
Stephan Palmié, “O trabalho cultural da globalização iorubá”, Religião e Sociedade, v. 27, n. 1
(2007), pp. 77-113.
2
François Laplantine, Aprender antropologia, São Paulo: Brasiliense, 2000, p. 21.

Afro-Ásia, 49 (2014), 11-39 11

afro 49.indb 11

5/6/2014 16:39:41

utopia cristã. Jamais foi seu intento construir uma identidade africana em torno de padrões religiosos autóctones. Como J. D. Y. Peel3 bem denota, a agenda político-cultural-religiosa de Samuel Johnson era fruto, também, da

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