A Beleza Ultrajada
*Paulo Gaiger
A reflexão que proponho é resultado de muitas das inquietações que vêm desvelando, por um lado, a cristalização em modos invisíveis a manifestos, da visão falocrática do trinômio gênero, corpo e beleza, e, por outro, a mutação dócil e venal dos modos conservadores e masculinistas da visão de gênero, do corpo e da beleza, que não somente alcançam o beneplácito dos aceitamentos pós-modernos, mas, sobretudo, conservam ocultamente incorporada a visão prepotente e androcêntrica. Ou seja, o gênero, o corpo e a beleza, estão sujeitos, em que pese as aparentes e às vezes reais transformações, à pesada mão masculina: a que dissemina a fealdade, a que semeia a injustiça, a que desenha as funções, linhas e curvas do feminino, a que bate o martelo, a que escreve a história, a que dá nome às ruas, a que se eterniza através de sobrenomes filho, júnior e neto.
Sobremodo, o tema da beleza, bastante colidente, polissêmico e controverso ao mesmo tempo, é o que emerge neste texto como o grande desafio às diferentes organizações sociais, a cada indivíduo e a todos os seres humanos, mulheres e homens.
Entre outras referências, saltam aos olhos a beleza como o anátema das condições que preservam as piores injustiças e desigualdades e, por isso, marginalizada em quase todas as configurações sociais dos mundos ocidental e oriental, especialmente nas regiões subdesenvolvidas; e a beleza mercenária e padronizada, tal mais um atributo condicional do consumo de produtos, de estéticas e aparências físico-periféricas, pressuposto para a aceitação e circulação urbana de mulheres ocidentais. Embora possam parecer em extremos opostos, compartilham e padecem nos mesmos latifúndios improdutivos do gozo e do autoritarismo falocráticos.
Assim, cuidadosamente comparto este meu desassossego procurando não perder de vista a interdependência entre os temas e sua complexidade. Ademais, desejo esta breve especulação comprometida com a vida vivida e,