a arte em nós
Mário de Andrade disse uma vez que a arte não é um elemento vital, mas um elemento da vida. ... Se associadas a um objeto útil, ela é, nele, o supérfluo.
p. 90 – Colocados em pedestal ou vitrina, permitem a eclosão de sentimentos, de intuições evocadas, ... ao perderem, algumas, sua função utilitária... e transformarem-se em “artísticas”, a passagem impõe a perda da função primitiva.
p. 94 – O mercado da arte, tal como o conhecemos hoje, nem sempre existiu. Existiram, é certo, desde o século XV pelo menos, comerciantes de objetos artísticos, de gravuras, quadros. Mas esse mercado, até por voltas do século XVIII, era secundário: o que dominava era a relação direta estabelecida entre aquele que encomenda a obra e o pintor [o qual] podia pertencer ao círculo de uma corte nobre ou real.
p. 95 – A aparição do marchand e sua atuação, promovendo exposições individuais e temporais, criando o monopólio sobre suas produções...
- O quadro tornou-se também um meio de investimento extremamente cômodo, passível de valorização considerável, idealmente resistente às inflações que o mundo hoje conhece...
p. 96 – O quadro não é mais arte, tornou-se uma convenção financeira.
p. 99 – Os pintores mudam de “fases” ... Isso é compreensível: o colecionador tem que ser estimulado para novas compras.
p. 102 – A arte possui também outro papel, suplementar, mais difuso, menos nitidamente definível ... o de distinguir, de valorizar socialmente uma elite.
... Nossa elite atribui à arte um papel “superior”, elitizante. Tocar piano era, não faz muito tempo, parte integrante da educação das moças de “boa família”, como ainda hoje é envia-las ao balé: o álibi do aprimoramento artístico esconde a afirmação de classe.
... A arte,em certos casos, torna-se a insígnia de uma “superioridade” que um grupo determinado confere a si mesmo. Interessar-se pela arte significa ser mais “culto”, ter espírito “mais elevado”, ser diferente, melhor que o comum dos mortais.
p. 104 –