A arte de esquecer

2858 palavras 12 páginas
a arte de esquecer
Iván IzquIerdo, LIa r. M. BevILaqua e Martín CaMMarota
Foto Paul Cooklin/agência France Presse - 2/7/2006

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pesquisador na área da Memória nos últimos 50 ou 60 anos, James McGaugh, da universidade de Califórnia em Irvine, num livro publicado em 1971, apontou que “talvez o aspecto mais notável da memória é o esquecimento” (Harlow et al., 1971). de fato, esquecemos a imensa maioria das informações que adquirimos. todos reconhecem que a infância é o período mais importante de nossa vida, porém, se nos convidarem a relatá-la, nenhum de nós levaria mais do que umas poucas horas. o médico que mais sabe sobre Medicina poderá expor tudo o que sabe também, no máximo, em poucas horas. a maioria de nós lembra com detalhes o que estava fazendo, onde e com quem, no momento em que morreu ayrton senna; ninguém se lembra do que aconteceu 24 horas antes ou depois. a morte do senna é uma memória altamente emocional, que recordaremos sempre porque foi gravada de maneira indelével (ver comentário no final deste artigo); as memórias do dia anterior e do dia posterior correspondem a memórias inexpressivas, que logo esquecemos para sempre. alvez o maior

estudos avançados

20 (58), 2006

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Há várias razões e mecanismos para isso. Para começar, os mecanismos da memória se saturam (Izquierdo, 2002). Para continuar, Jorge Luis Borges, num conto chamado “Funes o Memorioso”, demonstrou, pelo absurdo, que lembrar tudo é impossível. o personagem, Funes, pode lembrar até o último detalhe um dia inteiro de sua vida, mas, para fazê-lo, requer outro dia inteiro de sua vida, o que é impossível (Borges, 1943). de fato, é necessário esquecer, ou pelo menos manter longe da evocação muitas memórias. Há muitas que nos perturbam: aquelas de medos, humilhações, maus momentos. Há outras que nos prejudicam (fobias) ou nos perseguem (estresse pós-traumático). em razão do problema da saturação, existem memórias que nos impedem de adquirir outras novas ou adquirir outras

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