A Administração
Sérgio Adorno.
Departamento de Sociologia, FFLCH/USP. Núcleo de Estudos da Violência/USP.
Preparado para o ciclo de Conferências "Sociedad sin Violencia", promovido pelo PNUD - El Salvador.
Introdução
Este texto aborda as relações entre violência e exclusão sócio-econômica a partir de um caso determinado: o caso brasileiro. Explora a tradição da violência nesta sociedade; traça um quadro das características e tendências mais recentes da violência. Examina três causas que comparecem ao debate público: mudanças nos padrões de violência e criminalidade; crise no sistema de justiça criminal; e desigualdade social e segregação urbana. Em particular, quanto a este último aspecto, procura, de modo geral, comentar as principais "teses" que sustentam ou contestam a chamada violência estrutural. Embora não haja referências a outras sociedades latinoamericanas, pretende-se quer a análise realizada estimule a comparação e permita pensar diferenças e convergências entre nossas sociedades.
O contexto mais amplo Ex-colônia portuguesa, a sociedade brasileira conquistou sua independência nacional em 1822 sob um regime monárquico. Suas bases sócio-econômicas e políticas repousavam na grande propriedade rural, monocultora e exportadora de produtos primários para o mercado externo; na exploração extensiva de força de trabalho escrava, alimentada pelo tráfico internacional de negros desenraizados de suas tribos e comunidades de origem, no continente africano; na organização social estamental (Weber,1971; Fernandes, 1974) que estabelecia rígidas fronteiras hierárquicas entre brancos, herdeiros do colonizador português, negros escravizados, homens livres destituídos da propriedade da terra e populações indígenas. Esses fundamentos sociais conformaram uma vida associativa - isto é, padrões de socialidade e de sociabilidade - constituída em torno do parentesco, da mescla de interesses materiais e morais, da