Work
- a propósito de um caso clínico Viegas
1Interno
1, J
Marques
2 L
de Psiquiatria do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, 2Assistente Hospitalar de Psiquiatria do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra
Introdução O Delírio de Cotard, descrito pela primeira vez por Jules Cotard em 1880, trata-se de um delírio negativo sistematizado autónomo, caracterizado por ideias niilistas e hipocondríacas, com negação do funcionamento ou da existência de órgãos do corpo, com predomínio nas idades avançadas e no sexo feminino. Este delírio surge habitualmente no contexto de uma forma particular de doença depressiva, podendo cursar também com ideias de culpa, insensibilidade à dor e tendência ao suicídio, com relativa preservação da personalidade prévia. Tipicamente estes doentes começam com recusa alimentar devido as ideias niilistas com negação dos diferentes órgãos digestivos. Nos casos observados na práticas clínica aparece habitualmente um quadro de Cotard incompleto, reduzido a queixas hipocondríacas atribuídas ao mau funcionamento e a oclusão dos órgãos, na sua grande maioria relacionados com o tubo digestivo e com orgãos abdominais, e menos frequentemente com os órgãos da respiração e da circulação.
Caso Clínico
Doente do sexo feminino, de 80 anos de idade, viúva, 2 filhos e sem história psicopatológica prévia aparente. Há cerca de 1 mês que tinha vindo a assumir alterações comportamentais com anorexia, anedonia e isolamento social. Foi inicialmente medicada com anti-depressivo (ISRS) pelo médico assistente do CS. Contudo, cerca de 3 semanas depois, houve agravamento do quadro, iniciando discurso confuso, em que verbalizava “está morta, a minha boca está morta, foi-se!”, motivo pelo qual começou quadro de recusa alimentar e da toma da medicação (“a minha boca não quer comer”). Foi então orientada para o SU ficando internada no Serviço de Agudos do CHPC. À entrada apresentava-se calma, com lentificação psicomotora, orientada