Winnicott e melanie klein: encontros e desencontros, concordâncias e discordâncias
INTRODUÇÃO
A questão das disensões no universo psicanalítico sempre interessou (e mesmo fascinou) aos praticantes da psicanálise, como herança deixada por Freud com tantos cismas em sua vida científica, envolvendo discípulos nobres como Adler, Yung e Ferenczi, entre outros. São pais e irmãos se desentendendo e mesmo se degladiando, deixando a nós filhos científicos surpresos, atônitos ou mesmo estupefactos, ao esperar dos pais acima de tudo compreensão, tolerância e boa convivência. A cisma Winnicott x Klein deixou um rastro não menor que os de Freud, como confirmam os inúmeros trabalhos publicados sobre este tema desde que se iniciou o boom Winnicottiano na década de 90. Assim, só no Congresso Latino-Americano sobre o Pensamento Winnicottiano de 1994, em Gramado, tivemos vários temas-livres sobre esta questão. Diga-se, a bem da verdade, que o assunto vem sendo debatido apenas pelos Winnicottianos, já que os kleinianos continuam a só escrever sobre os temas e questões diretamente vinculados a seu grupo . Vejo o assunto repercutir para nós winnicottianos como se fosse uma luta , uma porfia, entre o pai (Winnicott) e a mãe de origem (Klein), como um desentendimento sem fim, já que ela não quis nunca uma conciliação. Já tendo escrito sobre o tema em 1989, tento agora neste trabalho dar uma visão mais atual do mesmo, inclusive em razão da publicação de um importante manuscrito de Klein, ao mesmo tempo que trago novos dados biográficos de Klein e de Winnicott que poderão lançar mais luzes sobre a questão. Winnicott era ainda um analista jovem quando conheceu Melanie Klein. Ela era cerca de 10 anos mais velha do que ele e tinha recém-chegado a Londres quando ele a procurou por indicação de seu analista pessoal, James Strachey, que lhe disse: “Se você trabalha com crianças vá ver Melanie Klein que neste assunto ela é fundamental”. Eles se encontraram e se