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Por isso, a partir de 1966, João Cabral de Melo Neto passou a editar seu poema com um subtítulo curioso: Morte e Vida Severina e Outros Poemas em Voz Alta. É que, ao objeto do nosso estudo, ele juntou outros poemas seus, como O Rio e Dois Parlamentos, que possuem a mesma estrutura de poemas dramáticos. As edições mais recentes, acrescidas de O Auto do Frade, foram rebatizadas como Morte e Vida Severina e Outros Poemas Para Vozes.
A linguagem
É impossível ler Morte e Vida Severina sem recorrer com freqüência ao dicionário. Mas isso não significa anacronismo de linguagem (como no caso de autores que o tempo envelheceu) ou simples pedantismo. João Cabral usa uma linguagem culta e corrente, porém sem distanciar-se de seu universo: o nordeste brasileiro, com sua maneira típica de se expressar, com sua cultura resistente às intempéries da miséria e à invasão globalizante. Ainda que escrito há mais de 40 anos, o poema contando a travessia sertaneja do retirante Severino envolve o leitor com sua linguagem simples e objetiva, mas sem abrir mão de uma forte identidade regional. Mas não confunda, leitor, com as caricaturas do linguajar "típico". Não. Em Morte e Vida Severina, a linguagem regional entra de cabeça erguida, ombro a ombro com a linguagem comum aos grandes centros. Os regionalismos aqui têm a função específica de marcar a trajetória de Severino, conferindo-lhe a autenticidade testemunhada pela linguagem popular. Observe também o uso dos topônimos, que se espalham por todo o poema. Por exemplo:
- Eis tamarindos da Jaqueira e jaca da Tamarineira.
- Mangabas do Cajueiro e cajus da Mangabeira.
- Peixe pescado no Passarinho, carne de boi dos Peixinhos.
O estranhamento provocado por essas combinações compensam a escassez de imagens "poéticas", típica da poesia de João Cabral de Melo Neto, sempre tão econômico em metáforas, metonímias e outras figuras que embelezam uma certa poesia de consumo fácil. Em