WERNER SOMBART
VINTE ANOS: PRINCIPAIS TENDÊNCIAS E
METODOLOGIAS *
1. BREVE "ITINERÁRIO" DA HISTÓRIA ECONÓMICA E
SOCIAL
1.1. Primórdios e evolução
Como qualquer outra disciplina, também a história económica e social tem a sua própria história. Nesta, perspectivada no longo prazo, podem detectar-se três fases: a) do século XVIII até finais de
Oitocentos; b) desde então até meados do século XX; c) a partir dessa altura, com destaque para as últimas três décadas.
a) Na primeira fase - a que poderíamos chamar a pré-história do dito ramo historiográfico - começam a surgir algumas chamadas de atenção para aspectos que, posteriormente, vieram a ser integrados na história económica e social, a saber: o económico, o social, os grupos anónimos, os fenómenos recorrentes, etc. Com efeito, enciclopedistas e iluministas, ainda na segunda metade de Setecentos,
* O texto que ora se publica, anotado, serviu de base a uma conferência proferida na
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra ( 1 3 . 1 2 . 1 9 9 4 ) , integrada no programa e v o c a t i v o dos 20 anos do Instituto de História E c o n ó m i c a e Social.
José M. Amado Mendes
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e românticos, já na primeira metade de Oitocentos, aperceberam-se das insuficiências e limitações da história—político-militar e diplomática, profundamente elitista, no sentido tradicional do termo—que se encontrava em voga. A propósito, Michelet referia-se à «história daqueles que sofreram, trabalharam, decaíram e morreram sem ser capazes de descrever os seus sofrimentos» ( ).
No mesmo sentido, Paul Maurice, ao anunciar a publicação de uma obra de Michelet (Légendes de la démocratie), em 1848, escrevia: «O operário, o camponês, o artista [artesão], o estudante, o soldado, todos os estados, todas as profissões, por assim dizer, reencontram nas suas biografias, simultaneamenta ideais e verdadeiras, as suas tradições, os seus padrões, os seus modelos» ( ).
b) Pelos finais do