Vulgarizando a vulgaridade
O que isto quer dizer? Não sei. É outra dessas frases que atravessam meu cérebro como se fossem metais que se lançam ao éter. Porém, refletindo um pouco, não deixo de ter razão, a vulgaridade está cada vez mais vulgar e, um pouco mais, o vulgar se tornará banal, isto é, perderá todas as suas qualidades.
Quando ligo a televisão no programa do Faustão, aquele esqueleto que um dia foi gente, e me dedico a observar o bailado das bailarinas. Então me pergunto, enquanto alguém está despencando de uma escada e o Faustão acha graça: onde será que arrumam mulheres tão lindas? Abro as páginas do jornal e leio que o Senado comprou oitenta carros novos para os senadores e mais oitenta iphones, para substituir os carros velhos do ano passado e os celulares velhos da semana passada.
Leio um livro de auto-ajuda e percebo quanta coisa eu deixo de fazer para me auto-ajudar, como não ficar estressado, não me incomodar com bobagens, como não rezar dez vezes ao dia, como não misturar bananas com melancia e como não tomar doze tranquilizantes. Vai ver é por isto que passo minha vida sem conseguir-me auto ajudar e, portanto, submetido ao que der e vier. Vou ao jornal de novo e vejo que esses livros são os mais vendidos do mundo.
Aí, numa tentativa de desvulgarizar um pouco a vulgaridade, abro um livro de poemas, me dou conta de que as frases do poeta propõem, com beleza, lirismo e emoção, a plena ajuda para quem souber ler, mas logo canso, religo a televisão para assistir o programa do Gugu, que Deus me perdoe. Dezenas de nadegas femininas, moldadas com se fossem pão recém saído do forno, sacodem ante meus olhos e nem acho graça. Centenas de seios flatulentos balançam à minha vista e é como se abacates em crise, desabassem ao mesmo tempo do abacateiro. Então me pergunto: Onde está à autêntica vulgaridade, aquela que o Chacrinha despejava sobre nós todos os domingos, sem malícia e sem vergonha? Não existe mais, infelizmente.
A vulgaridade hoje está tão