visao
"Machado de Assis nos conta a história de um canário que vivia em uma gaiola feia, num lugar sujo, entre os trastes de um velho armazém (desse de balcão que vendem toda a natureza de coisas). Um cidadão, impressionado com o canto do pássaro entre tanta coisa morta, pergunta a ele se não sente falta do céu azul, ao que o pássaro lhe responde que não sabe o que é isso, que o seu mundo é aquela gaiola, e que tudo mais é ilusão e mentira. O homem, intrigado, resolve comprá-lo. Coloca-o numa gaiola branca, em uma varanda que dá para o jardim. Depois de algum tempo, pergunta-lhe o que é o mundo, e ele responde que o mundo é um grande jardim com flores e arbustos e que tudo mais é ilusão e mentira. O homem adoeceu e o seu empregado deixa o pássaro escapar. Temos depois, passeando pelos arredores, ele vê o canário e torna a perguntar-lhe o que é o mundo para ele. O pássaro, então, lhe responde que o mundo é o espaço infinito e azul com o sol por cima." E, se esse pássaro fosse levado por um astronauta ao espaço, o que diria?
O conto de Machado de Assis é semelhante ao Mito da Caverna de Platão. Ambos falam da relatividade da visão do homem. A visão do mundo das pessoas varia de acordo com o que ouviram, o ambiente em que estão, os lugares que freqüentam, os livros que lêem, enfim, transpiram a sua realidade cultural imediata. Essa visão de mundo é a sua verdade e o resto é ilusão e mentira. Os valores de uma sociedade se distinguem dos valores de outra. A verdade de um povo, de uma religião, de um partido político se distingue da verdade dos outros povos, etc.
Todo ser humano quer fazer de sua crença a verdade universal e impô-la aos demais. É o que acontece nas seitas religiosas e políticas. Existem, para esses homens, só duas categorias de pessoas: os bons e os maus. Maus são os que tem outra visão de mundo de vida. Heródoto disse que, se lhes oferecêssemos a escolha de todos os costumes do mundo, daqueles que lhes parecessem melhores eles