virtudes
Caroline Bernich
As virtudes
24 de setembro de 2014
A polidez
A polidez é a primeira virtude e, quem sabe, a origem de todas. É também a mais pobre, a mais superficial, a mais discutível. Será apenas uma virtude? Se a polidez é um valor, o que não se pode negar, é um valor ambíguo, em si insuficiente – pode encobrir tanto o melhor, como o pior – e, como tal, quase suspeito. Esse trabalho sobre a forma deve ocultar alguma coisa, mas o quê? A polidez não é uma virtude, e não poderia fazer às vezes de nenhuma. Por que dizer então que ela é a primeira, e talvez a origem de todas? É menos contraditório do que parece. A origem das virtudes não poderia ser uma (pois, nesse caso, esta mesma suporia uma origem e origem não poderia ser), e talvez seja próprio da essência das virtudes o primeiro delas não ser virtuosa. A moral começa, pois, no ponto mais baixo – pela polidez -, e de algum modo tem de começar. Nenhuma virtude é natural; logo é preciso tornar- ser virtuoso. “É praticando as ações justas que nos tornamos justos” continuava Aristóteles, “praticando as ações moderadas que nos tornamos moderados e praticando as ações corajosas que nos tornamos corajosos.” A polidez é anterior à moral, e a permite. “Ostentação”, diz Kant, mas moralizadora. Trata se, primeiro, de assumir “os modos do bem”, não, claro, para contentar-se com eles, mas para alcançar, por meio deles, o que eles imitam –a virtude –e que só advém imitando - os. “A aparência do bem nos outros”, escreve ainda Kant, “não é desprovida de valor para nós: desse jogo de dissimulações, que suscita o respeito sem talvez merecê -lo, pode nascer a seriedade”, sem a qual a moral não poderia se transmitir nem se constituir em cada um. “As disposições morais provêm de atos que lhes são semelhantes”, dizia Aristóteles. A polidez é essa aparência de virtude, de que as virtudes provêm.
Portanto, a polidez salva a moral do