VIOLÊNCIA
Print version ISSN 0102-6992
Soc. estado. vol.19 no.1 Brasília Jan./June 2004 doi: 10.1590/S0102-69922004000100004
ARTIGOS
Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano
Luiz Antonio Machado da Silva
Professor do Departamento de Sociologia do IUPERJ/UCAM e IFCS/UFRJ
Palavras-chave: sociabilidade violenta, crime comum violento, violência urbana como representação social.
A violência se liberou de qualquer fundamento ideológico.
Hans M. Enzensberger
(...) o historiador de costumes obedece a leis mais duras do que as que regem o historiador de fatos; aquele deve tornar tudo provável, até o verdadeiro, ao passo que no domínio da história propriamente dita, o impossível é justificado pela razão de ter acontecido.
Honoré de Balzac
Introdução
Este ensaio analisa uma das formas de organização social das relações de força que são legal e administrativamente definidas como crime comum violento, tal como elas se configuram contemporaneamente nas grandes cidades brasileiras, com particular referência ao caso do Rio de Janeiro.1 Tomo este complexo de práticas como uma das expressões atuais do desenvolvimento histórico do individualismo, ou seja, uma de suas formas cristalizadas, e o focalizo em seu impacto sobre a estruturação das rotinas cotidianas.
Esta questão poderia ser discutida em seus aspectos mais amplos e mais profundos, remetendo a quadros de referência abstratos e culturalmente inconscientes, responsáveis últimos pelos significados culturais que subjazem à formação do sentido e à orientação da ação por "criaturas" deste ordenamento. O produto deste modo de reflexão seria uma metanarrativa voltada para a compreensão global do processo social que, ao menos idealmente, daria conta de explicar tanto as particularidades do comportamento dos criminosos ao longo do tempo e do espaço, quanto as próprias interpretações sociológicas "de alcance médio" a respeito delas.
Alerto o