Violencia domestica
A violência doméstica em Portugal: Contributos para a sua visibilidade
Isabel Sá Dias
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1. Introdução
O mito da “família idealizada” leva-nos a pensá-la como o lugar dos afectos e da expressividade. Esta idealização associada a outros mitos1 é, em parte, responsável por negligenciarmos a gravidade da violência doméstica considerando-a, muitas vezes, como uma componente necessária à educação dos filhos, ao relacionamento conjugal e a certas interacções familiares (Gelles,
1997:1). É igualmente responsável pela constante “desatenção selectiva” de que este problema tem sido alvo ao longo dos anos (Pagelow, 1984:12).
A violência doméstica constitui, de facto, um fenómeno de longa data. As nossas sociedades estão repletas de inarráveis crueldades cometidas contra as crianças, as mulheres e outros membros da família. No nosso país, apesar de se supor que é um fenómeno que afecta inúmeras famílias, só recentemente é que foi colocado de forma evidente na agenda política nacional.
Ora se não constitui um problema novo, como é que a violência doméstica se transformou, em Portugal, num problema social? Pensamos que tal ocorreu, entre outros factores, porque:
· hoje2 é maior a sensibilidade e a intolerância social face aos comportamentos violentos;
· a comunidade pediátrica em colaboração com profissionais de outras áreas disciplinares (magistrados, juristas, psiquiatras, técnicos do serviço social, educadores de infância, professores, sociólogos e psicólogos), tornaram num assunto público os maus tratos às crianças praticados pela própria família; · certas Organizações Não Governamentais através das suas estratégias de apoio e intervenção têm vindo a conferir alguma visibilidade à violência que muitas mulheres são vítimas no contexto das relações conjugais;
· recentemente, este fenómeno tem sido alvo de uma grande atenção por parte dos meios