Vida
Minhas Queridas
Rio de Janeiro
1940 - 1942
Rio de Janeiro
1940 - 1942
17 maio 1940 Querida Elizinha: Recebemos finalmente hoje a sua carta, hoje sexta-feira. “Finalmente” porque eu estou sentindo tanto sua falta em casa, que terça-feira já esperava pelo correio. Você indo embora a casa ficou muito vazia e eu muito sozinha. Espero somente que tudo isso se justifique com o melhor aproveitamento possível de sua estadia aqui. Pretendo ir aí no sábado. Ou talvez no outro ainda, porque há um baile e há a probabilidade em 3 milhões de que eu vá: não tenho vestido (queria fazer uma saia comprida de veludo e uma blusa de renda, mas o custo é imenso). Recebi na 2ª feira 281$200 na redação concernente a traduções antigas (Clarice trabalhava como repórter e tradutora na Agência Nacional.). Mas entre as qualidades do dinheiro não está a elasticidade. Elisa, tem outros hóspede aí? Só queria. Olhe, bichinha, você tem sempre sorte com o número 13, as viagens, são três, para Teresópolis, eram em cadeiras 13, e etc., não é? Pois bem, você viajou no dia 13. E papai notando isso, disse que no concerto de Yascha Heifetz (O violinista Yascha Heifetz tocou em Recife quando Clarice morava naquela cidade.) sua cadeira era nº 13! Vou ver se lhe arranjo um balangandã nº 13. Elisa, você tem por aí perto uma farmácia, para que lhe deem injeção? Por favor, escreva mais um pouco: sou eu quem pede e Tania, para quem eu li sua carta. Papai não está, por isso não se manifesta. Escreva mais detalhes: lembre-se que não sabemos absolutamente nada de sua vida aí. Tem trabalhado muito em Juiz de Fora. Cuidado com uma “surménage” (Estafa). Minha filhinha, seja feliz. Não me desaponte. E escreva logo que receber esta, no mesmo dia. Tania não manda muitos recados, diz que lhe escreverá. Manda mil abraços e lembranças. Um grande abraço de sua Clarice P.S. Não fique nervosa se não puder entender a letra. Conte até 10, dê uma volta pelo jardim e volte à tarefa com o espírito de