Vida e obra clarice lispector
Suas personagens são sempre flagradas no momento em que, a partir do cotidiano banal, alcançam o lado misterioso, inusitado, diferente da existência humana, mesmo que não consigam entendê-lo. No fim, acabamos nos deparando com histórias de exteriorização do oculto, em que o protagonista termina buscando, nos elementos exteriores, o seu interior. Ou seja, a busca da identidade passa pela busca do outro, seja humano, animal ou objeto.
O primeiro conto é Devaneio e embriaguez de uma rapariga, que chama a atenção pelo virtuosismo da autora de reproduzir com fidelidade as expressões típicas de Portugal (lusitanismos) no fluxo de consciência da protagonista, de fato portuguesa. Essa personagem está entediada com seu papel de esposa e mãe de família, chegando a relaxar em suas tarefas de tal forma que, presa à cama, o marido pensa que está adoentada. É o tédio que se instala.
Uma mudança ocorre quando ela e o marido vão jantar com um rico negociante. A protagonista embebeda-se, o que lhe abre caminho para a explosão de vida, longe da mesmice do cotidiano. Fica sempre na vertigem da saída de seus limites, algo até próximo do vexame, mas sente-se segura por ser amparada pela presença de seu marido.
Sua felicidade chega a ser comprometida com a chegada no restaurante de uma loira, dona de um padrão de beleza mais em voga na sociedade. A humilhação parece ficar consagrada pelo fato de a nova figura portar chapéu, ao contrário da portuguesa.
O jogo é virado quando a portuguesa percebe, ao olhar para a cintura fina da moça, que esta estaria impossibilitada de parir. Conclui: bonita, mas ineficiente no que