Uma reflexão sobre a construção da personagem ângela pralini na obra um sopro de vida, de clarice lispector
Luciana D’Ávila da Silva
1. Introdução
Este ensaio promove uma reflexão sobre o romance póstumo “Um Sopro de Vida (Pulsações)”, o último livro de Clarice Lispector, que foi iniciado em 1974 e finalizado em 1977, pouco antes da morte da escritora. A obra foi organizada por uma amiga íntima que Clarice, Olga Borelli. Atualmente Borelli é uma das maiores estudiosas da obra de Lispector.
Um Sopro de Vida, como explicitaremos a continuação, trata-se de uma obra inquietante e questionadora, por que transporta o leitor a um universo de criação dos autores literários, em que a personagem principal, é uma criação de outra personagem, conhecido apenas como autor; esse homem nos fala sobre o processo de construção de uma personagem, que para ele é quase real. A personagem fictícia construída pelo autor é quase um ente do mundo real para ele, em que o mesmo dialoga e reflexiona sobre as questões do cotidiano daquela personagem.
2. A personagem como o Eu inconsciente do autor, que também é personagem.
O romance conta a história de um escritor que cria uma personagem chamada Ângela Pralini, e que na verdade é muito mais que uma simples protagonista para sua obra, ela é o Eu inconsciente desse autor sem nome, sendo a mesma uma expressão da personalidade do próprio escritor. Podemos comprovar essa afirmação com o trecho da narrativa, em que o eu - lírico diz:
“Tive um sonho nitido inexplicável: sonhei que brincava com o meu reflexo. Mas meu reflexo não estava num espelho, mas refletia numa outra pessoa que não eu. Por causa desse sonho é que inventei Ângela como meu reflexo? Tudo é real, mas se move va-ga-ro-sa-men-te em câmara lenta. Ou pula de um tema a outro, desconexo”.(1978: pg. 12).
Percebemos que esse autor tem uma motivação ao criar a personagem Ângela, que corresponde a ideia da criação literária, como explicita Abdala Jr.