Venezuela e seus vizinhos
Amado Luiz Cervo *
Introdução
A ênfase deste estudo consiste em definir o papel estratégico da Venezuela para as relações internacionais da América Latina em geral e da América do Sul em particular. Serão examinados os antecedentes históricos das relações regionais da Venezuela e aprofundados os eixos de ação do lado da Colômbia, da Guiana e do Brasil. A presença da Venezuela nos órgãos e blocos regionais consta entre os objetivos de outro estudo, porém sendo tomado em consideração nas conclusões do trabalho.
1. Petróleo e democracia: o peso da história recente
O Governo venezuelano enfrentou durante décadas dificuldades em estabelecer sua estratégia de relações com os vizinhos. Desde os anos cinqüenta do século XX, obedecia este Governo a impulsos contraditórios em suas relações regionais: ou controlar a cooperação e a integração, ou desprezá-la. Compreende-se, pois, que tenha reagido com desdém ante a iniciativa da Operação Pan-Americana lançada pelos presidentes do Brasil, Juscelino Kubitschek, e da Argentina, Arturo Frondizi, em 1958. A opinião pública venezuelana também reagiu indignada, àquela época, diante da idéia de criação de um mercado comum latino-americano, considerada pelo Ministro das Relações Exteriores, Ignacio Luis Arcaya, uma iniciativa sem criatividade. Desse modo, a criação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) pelo Tratado de Montevidéu, de 1960, surpreendeu o Governo e o setor privado da Venezuela. Os impulsos contraditórios da política regional venezuelana apoiar-se-iam, desde então, em duas percepções que alimentariam o sentimento de autoconfiança: a superioridade econômica advinda da riqueza petrolífera e a superioridade política advinda da tradição democrática, inaugurada por Rômulo Betancourt, em 1959.
Revista Cena Internacional. 3 (1): 5-24 [2001] * Professor titular de História da Política Exterior do Brasil da Universidade de Brasília (UnB).
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A VENEZUELA