Velhice Transviada
Com uma rotina dinâmica, planos para o futuro e disposição, idosos com nova mentalidade conseguem encontrar a fórmula para a "fonte da juventude"
Por Estanislau Maria
Não fosse um acidente de trânsito ter posto um fim abrupto à vida do escritor Dias Gomes, na quarta-feira passada, ele, provavelmente, viveria ainda muitos anos. Aos 76, trabalhava, tinha projetos, estava casado e criando seus filhos. Era um exemplo típico de "velho ativo", que, segundo as últimas pesquisas, são os mais fortes candidatos a uma vida longa.
O estudo mais recente, feito pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo, antiga Paulista de Medicina), mostra que a "fonte da juventude" é fugir ao máximo do estereótipo do vovô caseiro: o segredo é ser sociável, manter uma rotina dinâmica, ter planos e sonhos.
O projeto, chamado Epidoso (Epidemiologia do Idoso), vem acompanhando 1.667 pessoas com mais de 65 anos em São Paulo desde 1991. Todo ano, os idosos são submetidos a uma bateria de exames clínicos e a uma entrevista pessoal. A maioria deles -78% dos homens e 65% das mulheres- classifica o próprio estado de saúde como excelente ou bom.
Morreram, nesses oito anos, 143 pessoas -uma média de 9%, dentro dos padrões internacionais-, mas alguns grupos apresentaram percentuais maiores de morte.
"Chegamos a cinco fatores de risco: ser homem, passar dos 85 anos, ter mais de sete atividades diárias comprometidas (não andar, fazer compras, ir ao banco, banhar-se etc.), ter problemas de memória e já ter sido internado", explica o geriatra Luiz Roberto Ramos, um dos coordenadores do Epidoso (veja quadros na pág. 14 e 15).
Os pesquisadores procuraram, então, as causas que levavam a esses cinco grupos de risco e constataram que, na base de tudo, estava a inatividade. "Quem se entrega morre mais rápido", resume Ramos.
Com a chegada da velhice, o risco é entrar em uma "bola de neve": a pessoa torna-se menos ágil, perde algumas capacidades (ouve mal, não tem mais controle urinário, tem