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306 palavras
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O filme Desmundo (2002), adaptação do romance homônimo de Ana Miranda, chegou às telas brasileiras com enorme potencial e uma abordagem diferente do que normalmente é vista nas películas de épocanacionais.Desmundo conta com uma produção cuidadosa em detalhes. Por exemplo, as personagens falam português arcaico – curiosamente com pouco ou nenhum sotaque português – o que pede ao filmelegendas em português atual para que o público possa acompanhar. Aqui, entretanto, o efeito final não soa tão artificial quanto nos filmes de Mel Gibson. O elenco está todo muito bem preparado e a cargadramática casa perfeitamente com o velho idioma que, afinal, não difere tanto do nosso português atual.
Ainda nos detalhes, é interessante notar a contextualização histórica, sutil em alguns casos. Ofilme aborda a história das órfãs brancas que eram enviadas do Reino para que se casassem com os colonos dos primeiros anos da colonização portuguesa por estas terras. Em determinadas situações, têm-seum vislumbre de certos problemas bastante característicos deste momento. Um exemplo é o conflito entre os negociadores de escravos indígenas com seus aliados tupinambás, que alegavam que osportugueses, no afã de comercializar suas cargas – obtidas na figura dos prisioneiros de guerra – não lhes permitiam realizar seus rituais antropofágicos. Estes detalhes, como o uso do termo “negros da terra”para se referir ao indígena, algo bem particular do período, só vêm a enriquecer a boa contextualização da colônia no século XVI.
Para a narrativa, opta-se por mostrar um Novo Mundo duro, semsutilezas. Nada das cores vivas e situações cômicas do Caramuru do Selton Mello, por exemplo. Desmundo apresenta uma sociedade tosca, que nem bem pode-se ser assim chamada num sentido mais humano. Sãopessoas nulas de amenidades se estabelecendo no que eles encaram como a expressão máxima da selvageria. Importante lembrar que esta visão retinta do passado, onde tudo parece menos limpo e