Van Eyck - fenómenos gemeos
Nos debates que moldaram a cultura arquitectónica contemporânea do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, o tema do \'limiar\' foi introduzido por iniciativa dos ingleses Alison Smithson (n. 1927) e Peter Smithson (n. 1923), na nona edição dos Congrès Internationaux d’Architecture Moderne , referindo-se à extensão da casa sobre o espaço público imediato, à transição entre o interior doméstico e a rua. Em boa medida, as suas observações partiam das investigações sobre os padrões de associação quotidiana entre a população operária de um bairro do East End de Londres então empreendidas pelo fotógrafo Nigel Henderson e pela socióloga Judith Stephen. Adoptavam o ponto de vista das crianças, para quem a aprendizagem do domínio da soleira representa o começo da extensão do espaço familiar à esfera social(39). E concluíam que a rua era mais do que um simples meio de acesso, era como que um palco da expressão social no qual eram gerados a identidade, os laços sociais, a sensação de segurança e de bem-estar(40).soleira(CIAM 9; Aix-en Provence), em 1953. Os Smithson apresentaram as suas ideias sobre o \'doorstep\'
Logo depois, o holandês Aldo Van Eyck (1918-1999) tomou o conceito de soleira e alargou-lhe o sentido. Alimentando a sua reflexão com contributos de fontes muito diversas (das vanguardas artísticas do início do século XX à filosofia, das ciências exactas à antropologia), Van Eyck ia recuperar o sentido ritualizante do espaço e elevar a liminaridade a princípio fundamental de toda uma construção teórica e poética da arquitectura e do lugar(41). Para Van Eyck, a ideia de limiar era algo que tinha capacidade para reestabelecer a ligação entre todas as polaridades da realidade, entre todos os aspectos ambivalentes e complementares que o arbitrário cultural transforma em antinomias. No CIAM 10 (Dubrovnik, 1956), lançou o mote \"la plus grande réalité du seuil\"– o limiar como símbolo da