Un dia
afirmou o próprio Garret, é um livro “despropositado” e “inclassificável”, uma vez que as espécies literárias misturam-se: relato jornalístico, literatura de viagens, idílio amoroso etc. Tudo numa só obra. E é justamente essa impureza dos gêneros a principal marca deste livro. Almeida Garrett promove o ineditismo ao introduzir na literatura portuguesa “a narrativa dentro da narrativa”.
Como já citei há duas narrativas contadas numa só. Dividido em 49 capítulos, primeiramente, o livro narra a viagem verídica que o autor fez até Santarém a convite de seu amigo Passos Manuel. Não se trata de uma viagem simplesmente turística, em que somente a contemplação da beleza é descrita. Mas de um relato de viagem em que o autor tece diversos comentários sobre a situação em que Portugal se encontra, quanto a: riqueza, progresso, literatura, política, modéstia, guerra, clero, amor etc. Isso podemos perceber em passagens como: “a ciência deste século é uma grandessíssima tola. E, como tal, presunçosa e cheia de orgulho dos néscios”. “a sociedade é materialista; e a literatura que é a expressão da sociedade, é toda excessivamente e absurdamente e despropositadamente espiritualista”. A segunda narrativa inicia quando o autor chega a Santarém e passa a contar a paixão vivenciada entre o casal de primos Carlos e Joaninha. Esse idílio amoroso merece especial atenção. Joaninha – a menina dos rouxinóis – representa perfeitamente a imagem da mulher romântica: seus olhos são verdes, é integra, pura e fiel a seu amor (Carlos). Tem apenas sua avó no mundo. Uma senhora já bastante idosa e cega. Recebe a visita, todas as sextas-feiras, de Frei Diniz. Frade franciscano que escondeu por muitos anos ser o pai de Carlos. Frei Dinis representa o velho poder do estado. Imutável as mudanças. Temos, também, Georgina, mulher que divide o amor do coração de Carlos. E por fim, temos o personagem