Um susto necessário

Um susto necessário
Era 2004 e eu cursava o segundo ano do ensino médio. Lembro de sentir muitas dores na barriga que logo associei ao fato de ter cólicas todo mês por ter nascido mulher. Mas não foi bem assim.
Passou-se uma semana e as dores não cessaram, vômitos passaram a ser rotineiros e eu já não comia. Minha família nesta época estava com imensas dificuldades financeiras e não possuímos sequer plano de saúde para melhor nos assistir em situações como esta.
Foi através de favores, contatos com conhecidos, que minha mãe conseguiu uma consulta em um hospital público. Ao me examinar, o médico disse que se tratava de apendicite (uma inflamação no apêndice) mas que não poderia fazer a cirurgia, somente o plantonista do turno seguinte. Chorei muito, de dor e angústia, esperando o tal médico.
Quando o médico designado para a cirurgia enfim chegou, fez outros exames e deu outro diagnóstico. Verme. Ele disse que eu estava com verme. Não acreditei. Ele simplesmente deu-me uma injeção e voltei para casa.
De fato senti-me bem melhor depois de medicada, mas não tardou para as dores e a ânsia de vômito voltarem. No dia seguinte, muito cedo, voltei ao hospital.
O mesmo médico me recebeu e decidiu que iria “me abrir” para ver do que se tratava. Recordo que durante a espera para prepararem o centro cirúrgico, refleti muito sobre a minha vida e o valor que estava atribuindo a ela. Pouca era a importância que nos últimos tempos havia dando à minha família, aos estudos, e a mim mesma.
Centro cirúrgico pronto, anestesiada me vi dormindo e mais tarde acordando com uma realidade diferente. Foi sim apendicite e, o apêndice, de tão inflamado que estava, quase afeta outros órgãos meus. Ouvi minha mãe na sala de recuperação dizer que se eu “tivesse ido embora”, ela teria ido junto. Neste momento percebi o quão ingrata estava sendo em não dar valor a quem amo. E, até hoje me pergunto:
- Será que se eu não vivenciasse essa experiência poderia ter hoje o mesmo ponto de vista