Um pouco de cada
Em primeiro lugar, os nossos sentidos, no comércio com objectos sensíveis particulares, introduzem na mente várias percepções distintas de coisas, consoante os diversos modos segundo aos quais esses objectos os afectam. E, assim, chegamos a possuir essas ideias que temos do amarelo, do branco, do quente, do frio, do mole, do duro, do amargo, do doce, e de todas aquelas que chamamos qualidades sensíveis. E quando digo que os sentidos as introduzem na mente, quero significar que eles transmitem, dos objectos exteriores para a mente, aquilo que nela produz aquelas percepções. Chamo SENSAÇÂO a esta grande fonte da maior parte das ideias que temos, posto que estas dependem totalmente dos nossos sentidos e por eles são comunicados ao entendimento.
Em segundo lugar, a outra fonte a partir da qual a experiência provê de ideias o entendimento é a percepção das operações interiores da nossa própria mente enquanto se debruça sobre as ideias que recebeu. Essas operações, quando a alma sobre elas reflecte e as considera, abastecem o entendimento de uma outra série de ideias que não se poderiam receber das coisas exteriores. Tais são as de percepção, pensar, duvidar, acreditar, raciocinar, querer e de todas as diversas acções do nosso próprio espírito, as quais - pouco delas temos consciência e as podemos observar em nós mesmas - recebemos no nosso entendimento tão distintamente como as que temos os corpos que impressionam os nossos sentidos. Todo o homem possui totalmente em si mesmo essa fonte de ideias e, ainda que ela não seja um sentido por nada