Um olhar sobre a epidemia de cólera a partir do pensamento de pierre bourdieu.
Dhenis Silva Maciel
Pensar a epidemia de cólera de 1862 no espaço da vila de Maranguape nos leva a ver os usos que dela foram feitos, afinal “as doenças tem apenas a história que lhe é atribuída pelo homem. A doença não tem existência em si, é uma entidade abstrata a qual o homem da um nome.” (sournia,1985). Entre estas disputas temos o embate das irmandades e grupos políticos que se dividiam entre o culto de Nossa senhora da Penha e o de São Sebastião, que mesmo tendo nomeado a freguesia da vila não exercia o cargo de padroeiro. Nossa Senhora da Penha fora invocada na matriz local como uma forma de demonstrar uma ligação ao processo de romanização que estava iniciando na província cearense e com forma demonstrativa de poder do grupo que a tinha como protetora. A romanização pretendia diminuir a influencia dos santos particulares, na vida dos fiéis católicos, lembremos que vinha de longa data a criação dos santos especialistas, ou seja, aqueles que tinham poderes sobre determinadas questões da vida cotidiana dos fiéis, o que poderíamos exemplificar com Santa Clara – protetora dos músicos, Santa Luzia – padroeira dos olhos e da visão,... assim sendo, a Igreja Católica visou diminuir o papel destes santos com o estímulo ao culto dos detentores do título de santíssimo, a saber, Nossa Senhora, São José e o próprio Jesus Cristo. Mas perceber este embate requer que tenhamos um vislumbre mais cuidadoso sobre noções teóricas de poder e representações. Assim veremos as lutas pelo direito de monopolizar o poder simbólico dentro das relações humanas, retirando toda a carga transcendental da noção de poder e dando a ele uma visão historicizada, uma vez que humanizada.
Para a realização deste intento propomos uma leitura cuidadosa da obra O poder simbólico de Pierre Boudieu, e sempre que possível, analisando suas proposições sobre a ótica de outros comentadores das relações de poder