Um brasil excêntrico: sobre índios, portugueses, negros, alemães e italianos no rio grande do sul 1
Historicamente, um tema recorrente na relação do Rio Grande do Sul com o Brasil é justamente a tensão entre autonomia e integração. A ênfase nas peculiaridades do estado e a simultânea afirmação do seu pertencimento ao Brasil se constituem num dos principais suportes da construção social da identidade gaúcha, constantemente atualizada, reposta e evocada.
Primeiro há o que é chamado de "o isolamento geográfico do Rio Grande do Sul", responsável por sermos "um todo separado do mundo pelos areais litorâneos, pelos rios, pelas serras e pelas selvas” 2. A natureza, ao mesmo tempo que nos premiou com um espaço físico dos mais favorecidos e benéficos às atividades humanas, também nos contemplou com uma posição de difícil acesso, ilhando-nos no Continente de São Pedro e fazendo com que este ficasse isolado do Brasil por dois séculos.
A essa peculiaridade geográfica se soma uma história sui generis. Ela começa com uma integração tardia ao resto do país. Assim, embora descoberto no começo do século XVI, o Rio Grande do Sul só começa a desenvolver-se mais de um século depois através da preia do gado xucro, cujo objetivo era a exportação de couro para a Europa através de Buenos Aires ou Sacramento. No final do século XVII é que esses rebanhos ganham importância a nível nacional, pois passam a ter um mercado interno na florescente mineração da zona das gerais, estimulando paulistas e lagunistas a virem prear o gado xucro