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O facto de usarmos a palavra inteligência tão frequentemente leva-nos a acreditar na sua existência como uma entidade concreta, estável e mensurável. Mas será mesmo assim? por VITOR CRUZ (ver ref. biográfica no final)
É hoje consensual entre os investigadores que as crianças não vem ao mundo como autómatos geneticamente programados, colocando o ênfase na importância da natureza, nem como uma tábua rasa à mercê do ambiente, o que coloca o ênfase na importância da cultura. Por outras palavras, o antigo debate que motivou gerações de filósofos, e que levantava a questão se é a natureza ou a cultura que comanda o processo de desenvolvimento e crescimento, já não interessa à maioria dos cientistas. Actualmente, a questão é: Como é que a natureza e a educação interagem para produzir mudanças no desenvolvimento? Greespan sugere que a interacção entre as duas grandes forças geradoras do desenvolvimento em geral, e da inteligência em particular, a natureza e a cultura, "Não é uma competição, é uma dança". Para além da independência da polaridade entre natureza e cultura, ou hereditariedade e educação, é fundamental realçar que o facto de usarmos a palavra inteligência tão frequentemente nos leva a acreditar na sua existência como uma entidade concreta, estável e mensurável. No entanto, a palavra inteligência é, na verdade, uma forma conveniente de nomearmos alguns fenómenos que podem ou não existir e que nós nunca observamos directamente como um poder, apenas o fazemos através das suas varias realizações ou manifestações. Sendo, como é, um conceito tão pouco consensual e com tantas e diversificadas abordagens, não é nossa intenção apresentar nenhuma definição de inteligência. Iremos apenas partir de alguns aspectos da sua natureza para tentar perceber o que ela é. Deste modo, partiremos da sugestão de Feuerstein e Kozulin de que a inteligência é complexa, multidimensional e modificável,