Trxy
O transistor talvez seja a mais importante invenção da tecnologia do século 20. Quando se combinam numa malha de milhões de componentes por centímetro quadrado, eles são capazes de armazenar quantidades imensas de informação no volume equivalente ao de um selo postal e de processá-las a um ritmo alucinante. Um processador Pentium 4 é capaz de executar 1,7 bilhão de instruções por segundo e possui nada menos que 42 milhões de transistores.
Estes processadores se tornarão tão complexos, em relação à capacidade de tratamento de informações, como a própria estrutura física do cérebro humano, num horizonte de 40 anos. E serão milhões deles. Tamanho poder nunca esteve disponível em mãos humanas. Pode, entre outras coisas, alterar através de manipulações genéticas o próprio passo e a direção da evolução da vida, o que antes só a evolução natural podia fazer.
Este poder pode despoluir rios, curar doenças, aumentar a duração da vida e criar condições de sobrevivência com bem-estar e justiça num planeta cada vez mais densamente povoado. Mas pode também aumentar as diferenças sociais e o fosso que separa as sociedades afluentes daquelas que convivem com a miséria e a fome.
Mesmo acreditando que não seremos insanos o suficiente para destruir nossa própria espécie, nem o planeta que nos sustenta, estaria toda esta tecnologia se direcionando para nos fazer mais felizes? Pontualmente, sem dúvida, porque pode amenizar o sofrimento individual e salvar vidas. Mas, de modo geral, não. A tecnologia que não serve ao ser humano o aliena de si próprio.
Os sinais de alerta de que o progresso tecnológico não está sendo suficiente para atender às mais básicas necessidades humanas já se revelam no mundo mais desenvolvido, onde se observa um declínio geral da sensação de bem-estar e de felicidade e o crescimento do número de casos clínicos de depressão e das ocorrências de suicídio, causados pela competição exacerbada, pelo isolamento e a desintegração da convivência social.