Triste fim de policarpo quaresma (resumo)
Escritor fervoroso, suburbano, negro, aguerrido, irônico, combativo, maldito e incompreendido por seus contemporâneos. Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) desceu ao inferno, conhecendo o desprezo de críticos e a indiferença familiar pela sua vocação literária. Inquieto na dor, ríspido com os hipócritas, teve diante de si a tragédia da loucura, do alcoolismo e do preconceito. O artigo investe nas relações entre a trágica loucura de João Henriques, pai de Lima Barreto, e o personagem Major Quaresma, do romance "Triste Fim de Policarpo Quaresma". Mescla de fantasia e realidade, literatura e confissão, explora-se um fato doméstico citado pelo seu biógrafo: a alienação mental de seu pai e a família esquartejada por longas e intermináveis crises neurastênicas. Tais temas orientam-se pela construção de uma estética da existência em que a vida em questão é analisada como uma obra de arte.
Perdi a esperança de curar meu pai, coitado, não lhe afrouxa a mania que, cada vez mais, é uma só, não varia: vai ser preso; a polícia vai matá-lo; se ele sair à rua, trucidam-no. Coitado, o seu delírio cristalizou-se, tomou forma. Lima Barreto, Diário Íntimo (1956a)
Nove anos após terem se manifestado os primeiros sintomas da loucura paterna, o romancista carioca Lima Barreto se inspiraria em uma tragédia familiar para definir os contornos literários da loucura de seu personagem Major Quaresma, funcionário do Arsenal de Guerra, o qual acabaria sendo internado como louco no Hospício da Praia da Saudade. A correspondência entre a loucura de João Henriques - pai de Lima Barreto - e Major Quaresma remonta a uma série de fatos que marcariam a infância do escritor na Ilha do Governador, onde estavam localizadas as colônias de alienados Conde de Mesquita e São Bento, instituições psiquiátricas onde seu pai exerceu, de 1889 a 1902, as funções de escriturário, almoxarife e administrador, após uma carreira de vinte anos na Imprensa Nacional.
Esse período de sua vida é