trindade pouco santa de Richard Peet
A TRINDADE POUCO SANTA DE RICHARD PEET
Luís Mendes1
Uma das mais recentes obras de Richard Peet Unholy Trinity2 utiliza brilhantemente as ideias de poder, de interesse político, de hegemonia, de discurso e do poder da praticalidade, para fazer uma análise crítica de três instituições: o Fundo Monetário Internacional (FMI), o
Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC). A tese do livro é a de que elas desempenham na actualidade papéis bastante diferentes dos previstos nos acordos que as criaram. Esta trindade “pouco santa” governa uma economia cuja ideologia neoliberal insiste ser melhor, se institucionalmente não governada.
Esta tese cruza, aliás, um dos maiores e recentes interesses de investigação de Richard
Peet: a genealogia do neoliberalismo. Não se estranha, assim, que o livro nasça dos esforços empenhados de um grupo de alunos de diversos graus académicos da Clark University, em
Worcester, Massachussets, onde Peet lecciona Geografia, há dezenas de anos, e onde dirige um dos movimentos de Geografia radical mais activos de todo o Mundo. A ideia foi fazer um estudo crítico das três poderosas instituições globais mencionadas, tendo como contexto ideológico a análise dos princípios do neoliberalismo. Faz‑se uma abordagem histórica e geográfica, partindo da ideia de que as políticas actualmente seguidas por estas três instituições derivam de um considerável registo de experiências, retiradas, reafirmações e ainda de acumulação abrangente de poder e de influência. As três conseguiram obter posições de aparente concordância, ao assumir uma posição que combina rigidez institucional com fluidez de procedimentos. Ou, para colocar a questão de modo mais crítico, e com especial referência aos anos mais recentes, elas aprenderam que uma pequena volta e algumas confissões de falhanço parcial (“temos muito que aprender”) desculpam muitos abusos no exercício do poder.
No capítulo 1 apresenta‑se