trexo do livro senhora
- E de que serve a mim esse traste, a sua honra? Não me dirá? interrogou Aurélia com a sátira mais picante no olhar.
- Lembre-se que a senhora fez-me seu marido, e que eu ainda o sou. Vendesse-lhe eu embora esse título e as obrigações que a ele correspondem, a origem não importa; ele existe, e atesta-me esse direito reconhecido, ou antes conferido por si mesma; o direito que tem todo o esposo, se não à fidelidade da mulher, ao menos ao respeito da fé conjugal e ao decoro da família.
- Ah! Deseja que se guardem as aparências? E contenta-se com isso!
- Por enquanto!
Aurélia relanceou um olhar com o intento de surpreender o pensamento do marido na expressão da fisionomia:
- Terá a bondade de dizer-me qual é esse escândalo de que se queixa?
- Já não se recorda? Acha muito naturais as liberdades que tem deixado tomar esse moço, o Eduardo Abreu? Haverá um mês, em uma noite de partida, a senhora conversava com ele de um modo que deu tema às pilhérias do Moreira. Nessa ocasião não castiguei a insolência desse fátuo para evitar uma cena.
- Foi na noite da valsa?
- Não contente com isso, leva a inconveniência a ponto de receber aquele moço, na ausência de seu marido, e só, em colóquio reservado, como os encontrei!
- Acabou?
- Creio que é bastante.
- Bem, toca-me a vez de responder. Como o confessou, não lhe devo conta de minhas ações; só o homem a quem eu amasse teria o direito de mas pedir. Quero, porém, supor um momento que o senhor fosse esse homem, hipótese absurda, que eu