Trecho de um livro da Carina Rissi
A espera do felizes para sempre
1ª edição
Rio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2014
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F
iquei um pouco agitada observando Isaac acomodar as grandes cai xas sobre a carruagem. A assistente de madame Georgette estava na
calçada ao lado de duas pilhas de pacotes que quase ultrapassavam sua altura. E Anelize não era do tipo mignon. Ela esticava um deles para o alto, e o garoto que cuidava do estábulo de Ian coçava a cabeça, claramente se perguntando onde acomodaria mais um.
Eu gemi e desviei os olhos. Ian tinha extrapolado todos os limites des sa vez.
— Seu irmão não devia ter comprado tanta coisa pra mim. É um exa gero! — reclamei com Elisa, roendo a unha do dedão.
Minha quase cunhada adolescente me encarou, exibindo suas adorá veis covinhas. Os cabelos negros, como os do irmão, ressaltavam a satisfa ção mal disfarçada nos grandes olhos azuis.
— Você ouviu. Ian ordenou que comprássemos o enxoval completo.
Creio que teremos de voltar amanhã para buscar o restante. Ou então pe dir para Isaac vir sozinho, caso os preparativos do casamento nos impe çam de estar aqui.
— Eu não preciso de nada disso, Elisa! — resmunguei, batendo o pé feito uma criança de cinco anos.
— Discordo, senhorita Sofia — contrapôs a melhor amiga de Elisa, com ar sonhador. Tá vendo? Eu devia estar me sentindo como a Teodora, embasbacada e animada, não assustada. — O senhor Clarke lhe compra
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tantas coisas apenas pelo desejo de vê-la feliz — continuou Teodora, pou sando a mão enluvada em meu cotovelo.
Uma parte de mim sabia que ela tinha razão, e eu até podia entender
Ian, desde que ele não comprasse a vila toda para mim, como vinha fa zendo nas últimas semanas. Conforme o casamento se aproximava, mais tensa e inquieta eu me sentia. Não sabia ao certo por quê — bem, isso não é totalmente verdade. Não que a culpa fosse minha, mas da sociedade que cismava em usar o termo errado quando duas pessoas decidiam dividir a vida. Contrair