Trecho da Peça - O Cortiço
Narradora : Iam-se assim os dias, e assim mais de três meses se passaram depois da noite da Navalhada. Firmo continuava a encontrar-se com baiana na Rua de São João Batista, mas a mulata já não era a mesma para ele: Apresentava-se fria, distraída, ás vezes impertinente. Nas entrevistas apresentava-se ela agora sempre um pouco depois da hora marcada, e sua primeira frase era para dizer que tinha pressa e não podia demorar.
Rita Baiana: Estou muito apertada de serviço! Uma roupa de família que embarca amanhã para o Norte! Tem de estar pronta esta noite! Já ontem fiz serão.
Firmo: Agora estás sempre apertada de serviço! (Impaciente)
Rita Baiana (Tentando acalmar Firmo): É que eu preciso puxar por ele, filho! Ponha-me eu a dormir e quero ver do que como e com que eu pago a casa! Não há de ser com que eu levo daqui!
Firmo: Ora essa! Tens coragem de dizer que não te dou nada? (Irritado aponta para o vestido de Baiana) E quem foi que te deu esse vestido que tens no corpo?!!
Rita Baiana (Impaciente): Não disse que nunca me desse nada, mas com o que você me dá não pago a casa e não ponho panela no fogo! Também não estou lhe pedindo coisa alguma !
Sai Firmo e Rita Baiana, entra narradora.
Narradora: Azedavam-se deste modo as suas entrevistas, esfriando as poucas horas que os dois tinham para o amor. Um domingo, Firmo esperou bastante tempo e baiana não apareceu. E vagou aborrecido pelo bairro, arrastando seu desgosto por aquele domingo sem pagode. Ás duas horas da tarde decidiu entrar no botequim do Garnisé.
Sai narradora, entra Firmo.
Firmo “acende” um charuto pede uma bebida e senta na mesa. Um mulatinho senta na mesa e comenta:
Mulatinho: Soube que Jerônimo teve alta do Hospital.
Firmo que antes estava distraído, pergunta surpreso.
Firmo: Jerônimo?!
Mulatinho: Apresentou-se hoje pela manhã na estalagem.
Firmo: Como soubestes?
Mulatinho: Disse-me o Pataca.
Firmo: Ora, aí está o que é! ( Firmo bate na mesa com raiva)