Traçados diagnósticos e atuação do psicólogo frente à produção de vida na contemporâneidade
As ciências humanas, preocupadas com o fenômeno humano, voltam-se para o homem assim como para o seu modo de produzir sua humanidade (GOLDMANN, 1976). Sem me aprofundar nos embates entre características mensuráveis ou não de tais fenômenos, parto do viés sócio-histórico de Vygotsky (1989), que concebe o homem como produto/produtor de sua realidade, onde as características tipicamente humanas não têm base unicamente genética, tão pouco são consequências da simples ação do meio externo, mas sim, resultado da interação dialética do homem com seu meio sociocultural.
Somos produtos e produtores de nossas adversidades, e já não temos mais o controle sobre isso. Em meio a essa arquitetura hegemônica social é que surgem os rótulos e a segmentação de classes e das categorias. Pode-se citar aqui uma serie de transtornos e síndromes que – nos moldes atuais - são produto de nossa sociedade, tais como Transtorno de Déficit de Atenção (com ou sem) Hiperatividade (TDAH); Síndrome de Burnout; Depressão; Bullying; etc. E esse é um dos principais problemas do diagnóstico em psicologia nos dias atuais: não que a sintomatologia dos transtornos acima citados não exista, do contrário, existem sim e são bem reais. O desafio é lidar com o intento das camadas sociais de reduzir a pessoa ao transtorno, paralelo à necessidade do cliente que, fragilizado, necessita de uma explicação/resposta para seu quadro sintomatológico.
Quando coloco o transtorno mental como um constructo social, pretendo, antes de tudo, denunciar o modo como ele vem sendo amplamente defendido e legalizado por determinados segmentos das ciências humanas, sem um cuidado maior com o ser humano por trás do rótulo, pautado no Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (DSM), e em sua lógica médica biologista e medicamentosa, atendendo a interesses das indústrias farmacêuticas, na produção e elaboração de transtornos,