Tradição imposta

A tradição imposta Nunca acreditei em fé inabalável. Acho que todos, em algum momento, perdem a sua. É um sinal de humanidade. Mas acredito em tradições inabaláveis ou, ao menos, na importância que deveriam ter. Por isso me revolto todas as vezes que, em nome da fé, as tradições são ignoradas. Mais do que isso, são dizimadas. Aprendi cedo que nossos índios foram os primeiros a pagar os preços da colonização. Pagaram com suas terras, seus costumes, suas vidas. Os que sobraram foram catequizados, afinal, precisavam servir á Deus e não ao sol, a lua ou qualquer parte da natureza como sempre fizeram. Nós, brasileiros informados e conscientes, lamentamos por essa injustiça e culpamos os portugueses por todas as conseqüências desse abuso. Cresci acreditando que era um abuso! Sempre comparei essa situação com alguém entrando em minha casa, ditando ordens, fazendo mudanças, me roubando e, finalmente, me expulsando. Inaceitável! Mas agora parece que tudo mudou. A imposição passou a ser uma coisa boa, principalmente ser for a nome de Deus. Ninguém mais se incomoda, não estão catequizando os índios, estão só evangelizando. Isso deve fazer alguma diferença gritante que eu, ignorante, não consigo perceber. Ou será que existe outra explicação para tanta indiferença? Onde estão as organizações nacionais, mundiais, protetoras de tudo e de todos, que se metem em tudo e deixam isso acontecer? Estamos assistindo de camarote essa lavagem cerebral e permitindo que alguém diga a uma tribo inteira que é proibido dançar. Um índio proibido de dançar! De andar nu. De adorar à Terra.O mais incrível é que apesar de toda globalização, de toda informatização, o mundo parece não saber de nada, não se importar com nada. Afinal, tantos povos foram banidos e tantas tradições foram esquecidas, esse é só mais um. Vamos então, anotar tudo direitinho para que os próximos livros de história registrem com exatidão a nossa incompetência. Assim, nossos netos e bisnetos