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Poucas coisas são mais transformadoras do que a condição de pai, mais precisamente, o momento em que isso se concretiza, o momento em que um filho nasce. Há algo instintivo, ancestral que acende uma luz interna, faz soar um sinal de alerta e nos prende àquela criatura, ao mesmo tempo em que nos faz olhar o mundo com outros olhos. Entre os filhos e as mães, a relação é primordial, sempre existiu, física e espiritualmente, não tem marco zero. Já os pais entram na relação depois dela começada. Assim, tem de conquistar e cativar a criaturinha, e o primeiro momento marcante é aquele olhar de estranheza com que o recém nascido parece que lhes fita, como se dissessem “tudo bem, é esquisito, mas parece ser boa gente”.

Depois, ao longo do tempo, a relação com os filhos ensina. É apenas aparente a noção de que os filhos aprendem somente com os pais. Filhos aprendem com o mundo, muito com os irmãos, com os brinquedos, com os amigos e os inimigos. Já os pais, ensinam formalidades, regras básicas, se deixam (às vezes sem querer) imitar em hábitos, insistem em algumas coisas inúteis que os filhos fingem aprender para agradar. Mas os pais aprendem a se transformar, a fazer sacrifícios pessoais inimagináveis, se descobrem corajosos, ao mesmo tempo não escondem mais covardias, volta e meia se vêem descendo do pedestal e esquecendo dele. Filhos transformam os pais, enquanto pais formam os filhos. Ser pai é, acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz caso e quando cheguem. É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão. É aprender a tolerância com os demais e exercitar a paciência com os próprios erros.

Ser pai é aprender, errando, a hora de falar e de calar. É contentar-se em ser coadjuvante. Mas jamais falhar no momento preciso. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

É aprender a ser contestado mesmo quando no auge