trabalhos
Ele não se aborreceu contigo, querida, mas com ele mesmo. Não conseguia entender como era capaz de ser tão intolerante a ponto de as pessoas precisarem mentir pra ele e esconder várias coisas. — Pisco os olhos, mal consigo respirar, e Björn continua: —
Quando foi lá em casa e me contou, eu disse o mesmo de sempre. A maneira dele de falar, tão fria, intimida as pessoas, as deixa inibidas pra contar as coisas. Ele custou a entender, mas finalmente a ficha caiu. Ficou dias pensando a respeito, e por isso não falava contigo e, quando se deu conta dos estragos que fez, quis consertá-los, mas tudo foi por água abaixo. Você me beijou. Ele ficou paralisado e você foi embora.
Björn me olha. Olho de volta, estarrecida. Estala os dedos e pergunta:
— Você está aqui?
Confirmo com a cabeça e ele conclui:
— A questão, linda, é que ele disse que você foi embora e você tem que voltar. É tão orgulhoso que, apesar de saber que errou, não consegue te pedir pra voltar, mesmo que esteja se corroendo por dentro. Então, querida, se você o ama, tome a iniciativa. Todos que convivemos com ele vamos te agradecer.
Penso, penso, penso e finalmente declaro:
— Não vou fazer isso, Björn.
Ele bufa, fica de pé e pergunta:
— Mas... como vocês dois podem ser tão cabeças-duras?
— Com a prática — digo ao me lembrar da resposta que Eric me deu uma vez.
— Vocês se amam. Sentem saudades um do outro. Por que não resolvem logo essa situação? Da primeira vez vocês terminaram porque ele te largou. Agora é porque você foi embora. Um dos dois vai ter que ceder na terceira vez, não acha?
Me levanto e, atordoada por tudo o que ouvi, digo:
— Preciso sair daqui. Vem, vamos tomar alguma coisa.
Nessa noite eu e Björn saímos por Madri. Falamos muito.