Trabalho
1.1. O trabalho como expressão e conceito. Rudimentos de filosofia do trabalho.
* Segundo parte dos léxicos, a palavra “trabalho” viria da expressão “tripalium”, do latim tardio, que designava um instrumento romano de tortura. Logo a ideia de trabalho estaria associada – ao menos etimologicamente – à ideia de sofrimento. Era o desvalor do trabalho. Não é outro, aliás, o sentido mais óbvio da mitologia bíblica, em que a desobediência foi punida com a necessidade do trabalho (Adão e Eva). Agostinho Silva chegou a suferir precisamente a ideia oposta, isto é, de trabalho como fonte de prazer, mais adequado à semântica das doutrinas calvinistas. Antiteticamente, porém, Agostinho Silva vaticinara, noutro escrito, que a reconquista do Éden signicaria emblematicamente a “libertação do trabalho”, Notamos, pois, uma tensão que afinal desnuda o “movimento singular que é caracterizado pelo equilíbrio dicotômico entre dor e prazer: dor e atribulação para a produção dos bens; prazer e felicidade pelo consumodos mesmos. É a natureza contraditória do trabalho.
* É certo, porém, que, ao menos no plano semântico, a humanidade culta reconheceu há séculos o valor do trabalho humano. Entre os gregor, o valor-trabalho aparece claramente na dicotomia entre a “poièsis” e a “práxis”. Por “práxis” os gregos significaram a ação teleologicamente dirigida à consecução de um resultado útil e desejável. Era o que ocorria nas assembléias e praças (“ágora”) com as deliberações públicas. Esse modelo de ação (trabalho) era produtivo, politicamente relevante e socialmente valorizado. E, a meio caminho da “práxis”, estava a “poièsis”. Por “poièsis” designou-se o ato de criação, que não se confundia com o ato de fruição, geralmente imperfeito em relação à “poièsis”, porque a percepcição capta apenas os reflexos do mundo ideal, tal qual no célebre “mito da caverna” de Platão. A “poièsis” pressupunha, pois, dois elementos fundamentais: a permanência e a própria liberdade, tendo como