Trabalho
ISSN 1982-5323
Angioni, Lucas
As quatro causas na filosofia da natureza de Aristóteles
As quatro causas na filosofia da natureza de Aristóteles
Lucas Angioni
Unicamp, Depto. de Filosofia
RESUMO: Meu objetivo neste artigo é duplo. Primeiramente, tentarei mostrar que a teoria das quatro causas em Aristóteles pressupõe que todas sejam causas de uma mesma maneira, apesar de suas diferenças: todas operam em um esquema triádico e explicam porque um dado atributo ocorre em um dado subjacente. Em segundo lugar, argumentarei contra leituras segundo as quais as quatro causas não competiriam entre si no mesmo plano, sendo cada uma delas completa em seu terreno. Tentarei mostrar que, dentro de certos limites, existem claras relações de subordinação entre as quatro causas, ainda que essas relações não existam em todos os casos.
PALAVRAS-CHAVE: causalidade; hilemorfismo; teleologia; definição; teoria das explicações científicas; prioridade.
ABSTRACT: I have two aims in this paper. First, I argue that, in Aristotle’s theory of the four causes, all causes are causes in a same basic way, insofar as they all work in a triadic framework in which they explain why a given attribute holds of a given underlying thing. Secondly, I argue against a version of
“compatibilism” according to which each kind of cause is complete in its own domain and does not compete with any other kind. I claim that there are priority relations according to which some kinds of cause are subordinated to others, even if these relations do not hold in every case.
KEYWORDS: causality; hilomorphism; teleology; definition; scientific explanation; priority.
I. Há um conceito comum de “causa”? A estrutura triádica da causalidade.
No juízo de alguns, a teoria das quatro causas em Aristóteles estaria já em sua origem comprometida por uma séria confusão. Se faz sentido falar em quatro causas, é porque as quatro, não obstante suas diferenças