trabalho
Forca na força
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a palavra na boca na boca a palavra: força
a forca da palavra força a palavra rolha fofa
a rolha fofa sem força a palavra em folha solta
a força da palavra forca a palavra de boca em boca
na boca a palavra forca a palavra e sua força ----------------- falar na era da forca calar na era da força
na era de falar a forca calar na era de calar a boca
na era de calar a boca a era de falar à força
calar a força da boca com a forca falar a boca da forca com a força
calar falar a palavra não na ira de era ida
falar calar a palavra nesta ira de era viva
calar a palavra na era ida da ira falar a palavra na viva era da vida --------------- mas a forca da palavra força : um cedilha em sua boca
(Mário Chamie. Objeto Selvagem)
O poeta desenvolveu o texto por meio das permutações fonéticas e da exploração das possibilidades semânticas de algumas palavras-chaves, tais como: forca/força; rolha/folha; falar/calar; era/ira. Essas palavras constituem um campo semântico explorado pelo autor, que desenvolveu o poema a partir da constatação de que "na era de calar a boca" é "a era de falar à força".
caracterizando-se pela periodicidade e repetição das palavras, cujo sentido e dicção mudam conforme sua posição no texto.
Ex.: “(...) E na mão do primeiro o punhal se empunha se ergue chispando e em X pando desce: se crava cravo, na caixa de som”. (Colchão murcho coração)
(Azevedo Filho)