Trabalho
Breno Augusto dos Santos
Introdução
OS PROCESSOS de ocupação da Amazônia têm apresentado, como característica marcante, o fato de serem orientados de fora para dentro, tendo como objetivo a resolução de problemas alheios à realidade regional, seja o abastecimento de mercados (normalmente externos), seja a absorção de contingentes migratórios expulsos de outras regiões em conseqüência das distorções do desenvolvimento socioeconômico brasileiro [Fig. 1].
Nas últimas três décadas, esses processos adquiriram proporções alarmantes, incrementados pela miséria que assola grande parte da população brasileira e estimulados pelos mais diversos interesses, que vêem na Amazônia a possibilidade de rápida capitalização a partir da posse da terra ou da exploração dos recursos naturais, particularmente madeira e ouro, a custo relativamente baixo.
Em decorrência, sua população cresceu mais de cinco vezes, atingindo cerca de 19 milhões de habitantes. Tudo isso aconteceu sem que houvesse um "Projeto para a Amazônia", que a partir do adequado zoneamento ecológico, através de estudos que identificassem as reais aptidões e limitações de cada área (e convenientemente monitorados), possibilitasse a orientação da ocupação humana com desenvolvimento sustentado. Houve políticas governamentais isoladas, algumas bem intencionadas, mas a maioria casuística e desastrada, que muitas vezes tiveram como resultado o caos ambiental e social.
Essa ocupação intempestiva e desorganizada não transcorreu impunemente, surgindo graves conflitos pela posse da terra e de suas riquezas, com prejuízos muitas vezes irrecuperáveis para as populações indígenas e o ecossistema. Legiões de deserdados passaram a ocupar seus territórios, convivendo com a fome, doenças (principalmente a malária), promiscuidade, vícios e violência.
O processo de ocupação da Amazônia tem acompanhado a tendência da economia brasileira, sendo essencialmente concentrador de renda.