Trabalho
1. O dever da Palavra
2. A sociedade contra o Estado
3. Arqueologia da violência
O dever da palavra
“Falar é antes de tudo deter o poder de falar”. Com essas palavras, Clastres inicia seu texto, que embora não sendo extenso, propõe uma discussão incisiva com base nas sociedades primitivas.
Falar é antes de tudo o poder de não falar, pois o chefe tribal possui o domínio da palavra na tribo, sendo essa uma função específica que constitui a existência de tal cargo. O chefe na tribo tem por dever manter as tradições, relembrar os feitos dos antepassados. Esse exercício de manutenção e transmissão dos conhecimentos detém na fala sua eficácia.
Quando um chefe político, que não tribal fala, como um rei ou presidente, através do discurso, os demais ouvintes, principalmente os que se fazem presentes no local do discurso mantém-se em silêncio, por respeito, veneração ou terror, pois falar é uma das funções desses líderes.
Seu status garante sua fala, ou seja, credita de maneira eficaz a palavra proferida, uma vez que esse é detentor do poder e utiliza-se dele para mostrar sua soberania, através de ordens, decretos etc.
Diferentemente das tribos indígenas, a nossa sociedade, organizada em Estado é dividida em classes hierárquicas, onde ainda hoje pode-se constatar a presença de senhores e servos. Os senhores são detentores do poder e utilizam-se de atos de violência para se manter. A palavra é um direito do poder.
Já nas sociedades sem Estado, é dever de quem exerce o poder falar, mas não é obrigação de ninguém ouvir. Se acaso, o chefe tribal quiser impor seu poder sobre os demais membros da tribo, ele acabará sendo abandonado, pois a sociedade primitiva não aceita a imposição de nenhuma autoridade, como na nossa sociedade organizada em Estado.
Atualmente é fácil perceber quando há interesse das autoridades em serem ouvidas. Pronunciamentos em rede nacional são garantidos por lei. O governante, em horário nobre interrompe a