Trabalho
A história do trabalho no Brasil é também uma história de estereótipos, de julgamentos parciais e de generalizações abusivas. Trabalho e trabalhador – não raramente – são idéias vinculadas a preconceitos e falsas classificações. Dentre as leituras recorrentes do trabalho no Brasil, destaca-se aquela que privilegia a identificação do trabalho e do trabalhador assalariado a partir de referenciais europeus. A representação teórica européia explica, em larga medida, o quão reconstruída e desajustada é a idéia do trabalho no discurso político e na historiografia nacional. Espraiando-se pelo senso comum, as concepções importadas sobre o trabalho humano reforçam uma atitude frente ao “outro” que ignoram o contexto, as relações e as particularidades. Uma postura que transforma a diferença em hierarquia, o que é de extrema conveniência para o exercício autoritário do poder. Uma postura contrária à idéia antropológica de relativização, imprescindível para se resguardar o conhecimento das armadilhas e ciladas do etnocentrismo, na definição de Roberto DaMatta. A relativização propõe a abertura do campo de conhecimento a outras possibilidades explicativas, não raro opostas e conflitantes, complexificando o debate e, justamente por isso, tornando-o mais fecundo e refinado. Em suma, relativizar é oferecer voz e vez ao outro, é considerar que a verdade do conhecimento está mais no olhar do que propriamente no objeto olhado. De observador para observador, a verdade enxergada também pode variar. Relativizar, todavia, não é tarefa que se executa sem dificuldade: O sistema de idéias que culturalmente inscrito em cada ser humano tende a resistir bravamente às teorias hostis ou aos argumentos contrários , como lembra Edgar Morin. Assim que, originalmente pela janela teórica da cultura européia, o mundo do trabalho no Brasil ganhou sua ordem, pelas definições do que é trabalho e do que não é trabalho, de onde se trabalha e de onde não se