Trabalho de Português
Setembro de 1922
O futurismo é um fenômeno europeu e desperta interesse porque, entre outras razões, não se fechou, ao contrário do que afirma a escola formal russa, nos limites da arte, mas, desde o inicio, se ligou aos acontecimentos políticos e sociais, sobretudo na Itália. O futurismo reflete, na arte, o período histórico, que começou em meados dos anos 1890 e acabou na Guerra Mundial. A sociedade capitalista conheceu dois decênios de ascensão econômica sem precedente, que derrubou velhos conceitos de riqueza e de poder, elaborou novos padrões, novos critérios do possível e do impossível, e impulsionou o povo a novos actos ousados.
O movimento social, ao mesmo tempo, vivia, oficialmente, segundo o automatismo da véspera. A paz armada, com as indolências da diplomacia, o oco sistema parlamentar, a política interna e externa baseadas num sistema de válvulas de segurança e de freios, tudo isso pesava, duramente, sobre a poesia, quando o ar, carregado de eletricidade acumulada, pronunciava a iminência de grandes explosões. O futurismo deu o sinal premonitório na arte.
Observa-se um fenômeno que se repetiu mais de uma vez na história: os países atrasados, que não possuem um grau especial de cultura, espelhavam na sua ideologia as conquistas dos países avançados, com maior brilho e maior força. Assim o pensamento alemão dos séculos XVIII e XIX refletiu as realizações econômicas da Inglaterra e os avanços políticos da França. O futurismo, da mesma forma, adquiriu mais brilhante expressão não na América ou na Alemanha, mas na Itália e na Rússia.
A arte, com exceção da Arquitetura, só se baseia na técnica, em última instância, isto é, na medida em que a técnica serve de fundamento para todas as superestruturas. A dependência prática da arte, principalmente a das palavras, diante da técnica, não conta. Pode-se escrever um poema que cante os arranha-céus, os dirigíveis e os submarinos, num recanto afastado de qualquer província russa, sobre um