Trabalho de português
Português Brasileiro e Português de Portugal: algumas observações
Luzia Helena Wittmann, Tânia Regina Pêgo e Diana Santos Grupo de Linguagem Natural do INESC O português de Portugal e o português do Brasil diferem a nível fonológico, lexical, morfológico e sintáctico. O estudo e a quantificação dessas diferenças, contudo, ainda se encontra quase totalmente por fazer, ao contrário do que acontece no caso do inglês, para o qual, citando Johansson, "the literature on the relationship between British (BE) and American English (AE) is vast and varied" (1980:85). Neste artigo fazemos a apologia desse estudo, propondo uma metodologia baseada tanto em corpora quanto em dicionários, e descrevemos alguns primeiros resultados.
I. Da necessidade de uma abordagem científica ao estudo das duas variantes Embora concordemos com Mateus, quando afirma que "a consciência de falar uma língua ⎯ forma privilegiada do comportamento dos homens ⎯ está intimamente ligada e até certo ponto dependente das suas convicções e dos seus receios, dos seus desejos e, em última análise, da sua vontade" (Mateus, 1984:303), existem três ordens de razões pelas quais uma afirmação deste tipo não é suficiente para os linguistas portugueses e brasileiros quando se debruçam sobre a sua língua.
1. A necessidade prática A partir do momento em que é necessário descrever, formalizar, um sistema linguístico para ser abrangido como um todo ⎯ como é o caso da engenharia linguística ⎯ deparamo-nos com a necessidade de não apenas descrever o que por
alguns é chamado um "núcleo comum" ("common core", ou "portugais commun" (Teyssier, 1984)), mas todas e quaisquer manifestações linguísticas do português. Ao reduzir a língua a um núcleo comum, ela deixa de cobrir a linguagem padrão de cada variante. Do mesmo modo, quando se ensina o português como língua estrangeira, deve-se apresentar as diferenças entre as variantes de forma clara (se não se