Trabalho De Literatura E Cultura
Observo que frequentemente tem se apontado a corrupção como uma das maiores mazelas da sociedade brasileira. Geralmente a opinião pública tem como alvo favorito de críticas a classe política, e não demora pra que alguém surja com alguma referência ao mais recente escândalo político. É bastante curioso o fato de que metade dessas pessoas (ou talvez até mais) que criticam seus representantes políticos costuma recorrer diariamente a pequenos artifícios que burlam o costume ético e, muitas vezes, até a lei.
Estamos nos referindo ao nosso jeitinho brasileiro, à malandragem e ao jogo de cintura, essas características que já se mostram bastante enraizadas na nossa cultura, sendo ignorada de tão frequente que é sua presença, mesmo que provoquem conflitos diretamente divergentes dos valores ético-morais mais tradicionais e que seus efeitos colaterais estejam visivelmente prejudicando o desenvolvimento da nação. Esse trabalho busca justamente refletir sobre como a "ética" do jeitinho e da malandragem conseguem coexistir com a ética oficial pré-estabelecida. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da ética tradicional é o mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem.
O Descobrimento da Malandragem
Obviamente a desonestidade não é uma exclusividade do brasileiro. Ainda assim é interessante ressaltar a peculiaridade brasileira na admissão do jeitinho e da malandragem como elementos paradigmáticos à ação "moral". No nosso país tem se o costume de exaltar 2 tipos aparentemente incompatíveis: o honesto e o malandro. Nesse sentido, como bem observou o antropólogo Renato da Silva Queiroz, a cultura brasileira é permeada por uma ambiguidade ética em que termos como "honesto", "corrupto", "esperto", "otário", "malandro" e "mané" se misturam num confuso caldeirão moral. Esse caráter peculiar de nossa sociedade exige-nos alguns questionamentos: o que levou a cultura brasileira a essa ambiguidade moral? O que fez