Trabalh
Contudo, ao fazê-lo, sua escrita acaba criando o espaço da denúncia social e política, resultante da experiência de moradora de um ambiente marcado por dissabores, oriundos das dificuldades financeiras e da solidão de um ser que buscava na escrita a sua forma de prazer, através da sua capacidade de ver a realidade pela ótica da crítica de si, do outro e do mundo. Carolina apresenta-nos Quarto de despejo como a metáfora da podridão e do abandono a que é submetido o ser humano.
Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914 na cidade de Sacramento em Minas Gerais. O seu avô Benedito José da Silva era um homem analfabeto, muito valorizado pela sabedoria e vontade de aprender, pai de nove filhos, dentre eles, Maria Carolina, sua filha mais velha e mãe de Carolina Maria. Seu pai era alcoólatra e tocava violão de bar em bar para ganhar alguns trocados. Sua infância foi repleta de preconceitos, deixando sérias cicatrizes na personalidade de Carolina, que na vida adulta se tornou ambivalente com relação à sua própria raça.
Aos sete anos de idade, Bitita, o seu apelido, foi para a escola graças à filantropia de uma senhora rica de Sacramento, que custeou a escolarização de Carolina e de várias outras crianças negras, como penitência por terem seus antepassados possuído escravos. Durante os seus únicos dois anos de escolarização, Carolina não somente aprendeu a escrever , mas também desenvolveu uma caligrafia perfeita.
Aos nove anos, se mudou para Lageado, perto de Uberaba, tendo que abandonar a escola.Daí em diante, os livros se tornaram o seu único consolo e a sua melhor companhia. Antes de deixar a escola, uma de suas professoras procurou Dona Maria Carolina e disse-lhe que sua filha era uma poetisa. Desconhecedora de tal palavra, Carolina recebeu uma bela surra